quinta-feira, 5 de agosto de 2010

MORRER É RIDÍCULO

Morrer é ridículo




Dizem que você é os livros que você leu, os filmes a que assistiu, os romances que viveu, as músicas que escutou, os cigarros que fumou e a lista é interminável. Tudo bem. Mas, de repente, isso tudo e mais as coisas que planejou, tudo o que estudou, a carreira que conquistou, os amigos que cativou, a família que tanto amou, os inimigos que fez e a louça que se esqueceu de lavar ficam para trás. Sem liberdade de escolha.

Se você estiver doente, com alguma idade, sabendo o que te espera, não é menos dolorido. Mas, nesse caso, pode-se contar com o direito a ler o livro cuja leitura adiou por muito tempo, ouvir mais algumas vezes as músicas de que mais gostava, abraçar mais uma vez a família, os amigos e a pessoa amada. Assim, existirá a oportunidade de se despedir e, ainda, não deixar nada por fazer.

Mas você pode simplesmente sair de casa para trabalhar. Recém comeu duas bolachas e um copo de leite, já está pensando no que vai comer no almoço, e talvez não almoce. Está pensando nas meias que vai comprar à tarde, e talvez não compre. Está pensando em usar aquele casaco tão bonito na festa de sexta-feira, mas talvez não use. Qualquer idiotice pode acontecer, sem que sequer dê tempo de você perceber. E aí, já era.

Luis Fernando Verissimo já escreveu em “A metamorfose” que “como alguém pode viver sabendo que vai morrer?” Nós conseguimos. Temos medo. Mas não costumamos agir como se isso pudesse acontecer a qualquer momento. Deixamos de valorizar os melhores momentos, que podem ser os mais simples, para ficar reclamando. Do salário, da chuva, do calor, do trabalho, dos filhos e aí por diante. Reclamar não adianta. Temos é que aproveitar. Viver cada dia como se fosse o último.

Se o indivíduo já viveu mais de cem anos (claro que a gente sempre quer viver mais e mais), tudo bem, ele até já superou a expectativa de vida mundial. Mesmo que não tenha realizado nada de tão extraordinário durante o percurso, viver cem anos é, sem dúvida, um grande feito.

Mas, e se não deu tempo de fazer muito? E a janela que ficou aberta em casa? E as roupas no varal? E os estudos? E o texto que não terminou de ser escrito? É ridículo pensar que tudo pode acabar num piscar de olhos. Isso se der tempo de piscar. Morrer é ridículo. Porque procrastinar em vida é uma questão de escolha, mas deixar de fazer as coisas porque simplesmente nunca mais terá a oportunidade de fazer, assim, de uma hora para outra, é uma estupidez.

4 comentários:

Alberto Ritter Tusi disse...

Bã, Ana Paula! Muito bom de ler isto. Ainda mais essas coisas, como morte, que fazem os cheios de orgulho tremerem a perninha ao tentar imaginar a grandeza do que se trata.
Abraço

Elis Minozzo disse...

Fantático o texto! Muito bom lembrar disso!

Abraços

Profª Ana Paula Milani disse...

Gente, isso sem parar para pensar que somos tão espaçosos, tão "imponentes" em vida... e aí, quando tudo termina, vamos parar em um buraquinho menor que a nossa cama... no mínimo humilhante!!!

Abraços e obrigada pelo carinho!!!!

Erico Rosado disse...

Olá Ana Paula, gostei do texto, interessante para fazermos algumas reflexões;;
Um abração;;