terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ah, os carros...

Ah, os carros...


Carros são uma coisa legal e curiosa. Na verdade, a nossa relação com eles é que o é. Hoje eu dirigia cantando e dançando e pensava sobre isso. A importância de um automóvel vai muito além de nos transportar para os lugares para onde queremos ir. Andando dentro de um carro, é como se estivéssemos dentro de uma cápsula protetora que impede a visão de todos os outros sobre as coisas estranhas que podemos estar fazendo. Tenho certeza que eu jamais diria que ia pela rua, a pé, cantando e dançando. Não se estivesse com um mínimo de sobriedade.

Imagine se alguém no mais pleno estado de sanidade sairia pelas ruas cantando Sangue Latino, do Ney Matogrosso e, ainda, dando umas reboladinhas com os ombros para explicitar sua empolgação com a música. Pois, no carro, a gente se anima a fazer isso. Sozinhos ou não. Com todas as músicas. Não nos sentimos ridículos. E nunca achamos que será vergonhoso, pois estamos muito bem protegidos, “ninguém” pode nos ouvir ou ver. E se verem, ah, aceleramos e vamos embora, ninguém vai lembrar...

O carro nos permite sair para dar uma volta do jeito que estivermos. De pantufas, roupão, camiseta do tempo da guerra, sem calçados, seja como for. Nunca nos preocupamos com o fato de que podemos precisar descer em algum lugar. O aspecto protetor, escondidinho do nosso carro nos permite pensar que ali estamos totalmente seguros, livres para fazer qualquer fiasco como tirar a meleca do nariz em público (Eu não faço isso, mas quem nunca viu alguém fazendo dentro do veículo? A explicação é óbvia: a pessoa nunca acha que, dentro do carro, ela pode estar sendo observada!).

Isso fora os xingamentos que proferimos de dentro do nosso automóvel. Será que, se estivéssemos passando pelas pessoas que xingamos no trânsito sozinhos, a pé, teríamos a mesma coragem? E íamos acelerar e sair de fininho de que jeito, caso o bicho pegasse? É... essa é uma coisa a ser pensada...

Imagino que seja essa sensação de segurança que as pessoas sentem quando saem por aí fazendo barbaridades com seus carros. Porque, bem, sair cantando e dançando escondido dentro deles normalmente não prejudica ninguém. Abrir a janela e curtir um ar fresco, pensando na vida, enquanto se volta pra casa depois de um exaustivo dia de trabalho não tem mal algum. Mas dirigir em condições adversas, colocando a própria vida e a de outros em risco, só pode ser conseqüência da ideia de aconchego, firmeza e “escondidinho” que o carro nos dá.

2 comentários:

Al Reiffer disse...

Amamos hoje os carros como antigamente amávamos os cavalos. Talvez os cavalos merecessem mais, mas fazer o que? hehe! Ótimo texto, abraços!

Unknown disse...

Lindo texto, sou filho de Santiago e a muito estou longe desta cidade, gostei muito do seu trabalho, gostaria de saber se você é a Ana Paula que conheço, meu nome é Delmar, se for quem eu conheço saberá quem sou, vou acompanhar seu trabalho.
boa sorte.
Delmar