sábado, 7 de abril de 2012

CRÔNICA: "OBRIGAÇÕES" FEMININAS

“OBRIGAÇÕES” FEMININAS



Andei sabendo que um deputado pretende tirar da mulher estuprada o direito que ela tem de abortar. Ele propôs que se obrigue a mulher a ter o filho em questão e que o Estado pague a ela um salário mínimo até que o rebento complete 18 anos. A revista em que li isso conclui que o político em questão quer “transformar esse tipo de gravidez em uma questão meramente monetária, como se o corpo e a psique da mulher violentada não existissem”.

            Ridículo. É um absurdo que a sociedade ainda seja composta por pessoas que pensam que a mulher é um depósito para o homem. Depósito do sêmen que os tarados não têm onde colocar, depósito dos recalcados e estressados que batem nelas, depósito da culpa pela quantidade de dívidas que adquirem, depósito da angústia pelos seus fracassos, depósito para as justificativas pelas suas infidelidades.

            A mulher de hoje, sabe-se muito bem, é mãe dedicada, profissional atuante, ativista social, provedora do lar, sexualmente livre, entre outras coisas, e ainda tem que estar linda, bem cuidada, superinformada e atualizada. Ser mulher é maravilhoso e extasiante, mas não é fácil. Tudo isso para quê? Para a sociedade hipócrita que adora rotular e julgar as pessoas achar que, além de estuprada, a mulher ainda tem que carregar, parir e criar o fruto de uma violência imunda, causada por um traste nojento qualquer que resolveu ter relação sexual com ela sem prévia autorização? Isso sem contar quando elas são hostilizadas por terem sido violentadas sexualmente, tratadas como vagabundas, como se pedissem, facilitassem ou merecessem um estupro.

            Deixemos bem claro que o sexo feminino não tem motivos para se sentir inferiorizado, nem sexualmente, nem profissionalmente, nem culturalmente. Tudo que os homens fazem, nós também somos capazes de fazer e, na maioria das vezes, se não o fazemos é porque não queremos. Nós não dirigimos pior que eles, não lideramos pior que eles, já se foi o tempo em que ganhávamos menos que eles e, se tivermos vontade, jogamos cartas e bebemos cerveja tanto quanto eles. E isso tudo, normalmente maquiladas, cheirosas, com os cabelos escovadíssimos e salto alto. Com muita classe.

            Fora a questão do aborto, que, não que eu seja a favor, mas nada nos dá o direito de julgar quem o faz. Cada um sabe de seu corpo e, como não podemos proibir ninguém de usar drogas ou se suicidar, também não podemos obrigar uma mulher a ter um filho que não deseja. Se o cara não pode obrigar a mulher a fazer sexo com ele, a sociedade também não pode obrigar a continuidade dessa gravidez.

            Afinal, desde quando dinheiro (pior ainda: um salário mínimo) relativiza danos causados por violência sexual?

2 comentários:

Anônimo disse...

BLÁ, BLÁ , BLA, QUANTA PORCARIA

ANA PAULA MILANI disse...

Agradeço a "audiência"! Mas acredito que tenhas apenas a intenção de ofender gratuitamente, pois, se a intenção fosse de uma crítica construtiva (que, inclusive, constitui elemento essencial para a formação de um bom trabalho), terias se identificado. Crônicas são um gênero textual de opinião, eu estou aqui apenas para expor a minha, e não para tentar (inutilmente) agradar a todas as pessoas. Agradeço tua visita, espero que passes por aqui mais vezes.