sexta-feira, 23 de setembro de 2011

CRÔNICA: SOBRE O TABAGISMO

SOBRE O TABAGISMO



            Detesto parecer auto-ajuda, mas juro que, realmente, não é essa a minha intenção. É que eu estava lendo algumas coisas constantes e pipocantes sobre o cigarro, e, como há pouco tempo sou uma fumante em recuperação, não pude evitar algumas considerações. Se servirem a alguém, ótimo. Se não servirem, vire a página, jogue este texto fora, enfim, livre-se disso.

            Acontece que o cigarro já foi moda. Não é mais. E é bem diferente das roupas da moda, que você compra, usa até enjoar e depois se livra delas com toda a facilidade. O cigarro caiu de moda e não pense que é por falta de vontade ou de vergonha que as pessoas não deixam de usar, como uma blusa da estação passada. As pessoas não deixam de usar porque não conseguem se livrar. Simples assim.

            Agora, se você faz questão de começar a fumar, acenda seu primeiro cigarro. Ok, não é ruim. Se ruim o fosse, não existiriam milhões de fumantes mundo afora. Mas, prepare-se para as humilhações. Poucos restaurantes que se prezam permitem que se fume em seu ambiente. Você vai ter que ir para o lado de fora, passar pelo ridículo de abandonar seus companheiros de mesa que não fumam, interromper a conversa, para ter o prazer de fumar seu cigarro. Não há mais espaço fechado que aceite alguém que bafore uma fumaceira fedorenta pelas ventas. E será mais incômodo se tiver chovendo. Nem vamos entrar nessa questão.

            Você vai se sentir bem cada vez que acender um cigarro, vai pensar que, mesmo sozinho, terá uma companhia, uma ocupação. Mas vai pagar bastante caro por isso. Calcule: ao preço médio de quatro reais, você fuma uma carteira por dia. Quanto dinheiro se queima em um mês? Em um ano? Em uma vida toda?

            Além disso, seus dedos vão ficar amarelos, sua voz vai engrossar, de vez em quando você vai ficar sem ela (dependendo do quanto você fumar), sua pele vai ficar grossa, seca, você vai ter olheiras, rugas, suas unhas ficarão fracas, talvez você tenha queda de cabelo. Seus dentes ficarão nojentos e amarelos. Os guardas te repreenderão nos aeroportos, mesmo nos espaços abertos. Você vai feder. As pessoas vão reclamar. É possível que você fique com vergonha. Então, você pode querer parar de fumar.

            Aí, você vai sofrer. Vai almoçar e sentir vontade de chorar por um cigarro. Porque, agora, aqueles rolinhos de papel fedorentinhos, que antes pareciam insignificantes, te dominam. Não é você quem controla essa relação. Eles agora são primordiais para você, tanto quanto a água, o banho, o sono ou a comida. E é muito difícil se desvincular disso. Vai sonhar com o cigarro todas as noites e você sabe que seu corpo precisa dele, mas também sabe que precisa cuidar da saúde e da aparência. Como ter filhos (as mulheres) sem largar esse vício infeliz?

            É preciso entender que, uma vez que o cigarro faz parte da vida de alguém, ele o fará para sempre. Nunca existirá um ex-fumante. Eu gosto do termo ‘fumante em recuperação’. Porque enquanto há vontade de fumar e nostalgia em relação ao cigarro, ainda existe um fumante. Hoje em dia, reconhecida a feiúra e a cafonice do cigarro, não é de se entender porque algumas pessoas se encantam tanto com ele. Ignore-se esse encanto. Ele é fugaz. Eu acho que acender o primeiro cigarro é uma das coisas mais fáceis que existem. Apagar o último, em compensação, uma das mais difíceis. E não é sem embasamento que afirmo isso.