PROFISSIONAIS
“SURTADOS”
A mídia
expõe incansavelmente a situação caótica em que se encontra a educação no
Brasil e no mundo. Não é de hoje que se coloca a culpa na escola e no
professor. É que parece mais fácil analisar os problemas em sua superficialidade
do que em sua verdadeira raiz. Para a sociedade, o professor vale pouco porque
ganha pouco e nem a imensidão de seu conhecimento, de seu esforço e de sua
capacidade são suficientes para que as opiniões gerais se modifiquem. E nem
falo em salários, falo em posição social, valorização, mesmo.
As famílias
enxergam que suas crianças ou jovens têm problemas, mas nunca reconhecem que
estes podem ter surgido no seio de sua família, não admitem que possam ter
falhado como pais e que a função do professor é a de ser um mediador do
conhecimento, seja dos conteúdos formais de aprendizagem, seja dos valores
morais e éticos para a cidadania. Os professores não têm a obrigação de suprir
os valores, os limites e a educação que a família não conseguiu administrar em
casa. Mas, como a ele é atribuída, além de todas suas atividades rotineiras,
mais essa função, ele acaba sendo dominado pelo estresse, e toda sua classe
fica conhecida como um bando de loucos desvairados que nunca está contente com
a fortuna que ganha e com a mamata em que vive. Os professores são, mesmo, uns
surtados.
Na mesma
medida em que o professor não pode substituir o papel da família, ele acaba
tendo que suportar a falta de limites, valores, educação e (por que não?) das
palmadas que os pais omissos não quiseram ou não conseguiram assumir. Então,
quando problemas de transgressão moral ou de aprendizagem surgem, a culpa é
imediatamente jogada sobre os ombros do profissional da educação, como se este
fosse um total incompetente, que merecesse realmente aguentar toda a sorte de
desaforos de crianças, jovens e pais malcriados. Porque um jovem malcriado, vão
me desculpar, tem sua origem muito justificável e compreensível, na maioria das
vezes, quando entramos em contato com seus “pais ou responsáveis”.
É
impossível deixar de mencionar que todas as pessoas pensam que podem dar
pitacos no trabalho do professor. Os alunos dos anos iniciais aos anos finais
do Ensino Fundamental, os do Ensino Médio, os pais que têm formação superior no
que quer que seja, os que nunca pisaram em uma sala de aula na vida,
fofoqueiros de plantão, e se bobear, até os cachorros e gatos de estimação de
toda a vizinhança. Ou seja: a formação acadêmica para o trabalho com a
educação, nesse sentido, seria tão desnecessária quanto a do jornalista. Você
tem a formação, tem a prática da docência, tem a vocação, mas qualquer um acha
que pode fazer melhor o seu trabalho ou te ensinar a fazê-lo. Engraçado que muitas
pessoas de outras áreas profissionais gostam de se meter no trabalho do
educador, mas aposto que pouquíssimas (talvez nenhuma) se arriscaria a uma
manhã de cinco períodos de aula com cerca de quarenta adolescentes. Alguns
deles tão “surtados” quanto seus professores.
“É a
vocação que explica a quase devoção com que a grande maioria do magistério nele
permanece, apesar da imoralidade dos salários”, diria Paulo Freire. Imorais são
os salários, o tratamento, a falta de valorização dos profissionais da
educação. Por isso tantas pessoas vêm abrindo mão de suas vocações. Não é difícil
entender por que, hoje em dia, jovem nenhum tenha vontade de assumir a
responsabilidade e o rebaixamento que o “ser professor” implica nos dias de
hoje.
Quando a
sociedade em geral respeitar os professores haverá a erradicação dos
profissionais da educação “surtados”, como muitos se referem.